Metodologia

Essa proposta de investigação procura abordar o tema da participação política em uma variedade de dimensões e modalidades. Assim, em razão dessa pluralidade, os procedimentos metodológicos são igualmente variados. No caso do comparecimento eleitoral duas são as fontes disponíveis: o Tribunal Superior Eleitoral e as pesquisas de opinião pública. Sobre a primeira, em que pesem todos os esforços de atualização cadastral (inclusive com o emprego da biometria), a confiabilidade dos números é bastante discutível. Quando comparamos as taxas de comparecimento registradas pelo órgão oficial com aquelas obtidas por meio de surveys aplicados a amostras representativas da população, verificamos consideráveis diferenças que podem ser atribuídas às dificuldades em manter a atualização constante do registro dos eleitores em um país continental e populoso como o nosso. Diante dessa discrepância, defendemos aqui que as pesquisas de opinião pública que contenham perguntas sobre o comparecimento ou não às urnas nas últimas eleições sejam a fonte mais confiável. O Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) em suas ondas de 2002, 2006 e 2010 oferece essa variável e também o Latin American Public Project (LAPOP) nas suas ondas de 2006, 2008, 2010 e 2012. Desta forma, será possível inclusive identificar a consistência das informações pelo confronto dessas duas fontes reconhecidas pela sua competência e rigor no levantamento dos dados. Utilizando essas duas séries históricas de dados, serão empregadas inicialmente técnicas de estatística descritiva para identificar as tendências de evolução nas taxas de comparecimento. Na sequência, em uma etapa explicativa, serão empregadas ferramentas bivariadas e multivariadas para identificar condicionantes individuais para o envolvimento dos cidadãos nessa modalidade de participação de natureza eleitoral. Para além dos modelos estatísticos, serão propostas hipóteses que levam em consideração efeitos de períodos, ou seja, acontecimentos e elementos conjunturais de cada período coberto pelas pesquisas de opinião. No que diz respeito ao engajamento nas associações e participação em protestos, também serão utilizadas essas duas séries históricas de dados, com destaque para o LAPOP, que tem, onda após onda, sofisticado sua bateria de perguntas sobre diferentes modalidades de ativismo. Além dessas, também contamos com os dados do Latinobarómetro e do World Values Survey (WVS). Apesar das baterias de questões dessas duas últimas fontes serem menos ricas do que a do LAPOP, elas cobrem períodos mais afastados, portanto serão fundamentais para nossas pretensões longitudinais. O WVS oferece informações sobre o Brasil desde 1991, e o Latinobarómetro, a partir de 1995. Assim como na dimensão anterior, aqui também serão empregadas inicialmente técnicas de análise descritiva para a identificação das trajetórias evolutivas de cada modalidade entre os brasileiros. Posteriormente, serão propostos modelos multivariados com o objetivo de identificar os condicionantes das diferentes modalidades de ativismo político, inclusive procurando averiguar se os modelos se alteram ao longo do tempo. É importante salientar também que, com relação ao mundo sindical, pretende-se estabelecer também sua trajetória evolutiva, no sentido de se descrever o ritmo de crescimento da sindicalização no país (regional, por setor produtivo, por filiação a central sindical etc.), bem como consultar os acervos de instituições como o DIEESE para aferir os ciclos de greves relacionados às variáveis indicadas. No que diz respeito ao engajamento em Instituições Participativas, não temos à disposição dados em séries históricas, como nos outros casos contemplados pela pesquisa. Desse modo, para essa modalidade, pretendemos apresentar um diagnóstico de abrangência nacional, a partir de dois bancos de dados. O primeiro foi elaborado pela parceria UFMG/Prodep/Instituto Vox Populi. Esse banco resulta de um survey aplicado no ano de 2011, com 2200 indivíduos selecionados aleatoriamente, oriundos de todas as regiões brasileiras. Nele, temos dados sobre o perfil do entrevistado, participação em movimentos sociais, associações, conselhos gestores, orçamento participativo e conferências. Como se vê, por esse banco também temos informações sobre o associativismo, o que pode enriquecer a análise feita com base nos outros bancos já mencionados para essa modalidade de participação O segundo bando de dados foi elaborado pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e traz informações sobre os Conselhos Nacionais e o perfil de indivíduos que participam dessas instâncias, bem como de suas inserções associativas. Esses dados foram coletados em 2011, contemplando 21 conselhos nacionais e foi baseado em 767 conselheiros entrevistados. Para esses dois bancos, a intenção é identificar, de um lado, o perfil do indivíduo que se engaja nessas instâncias, e de outro, o perfil de associativismo que nelas se inserem. Para o primeiro banco mencionado, aplicaremos também testes para verificar a existência de associações entre as diferentes modalidades de participação. Ainda quanto aos ciclos de protestos, além das bases de dados como a do Latinobarômetro e as outras indicadas acima, pretende-se explorar metodologias de pesquisa qualitativa para a compreensão das características e particularidades dos “ciclos de protestos” relevantes – ou seja, que assumiram caráter regional ou nacional – no período de 1988 a 2013 (por exemplo, Fora Collor!, Contra privatizações!, Anti-ALCA/Brasil 500 anos, Manifestações de junho de 2013). Embora não haja ainda um cronograma de atividades definido, metodologicamente o que guiará nossas ações é o seguinte roteiro: 1) realizar pesquisa em acervo de jornais de circulação nacional de maneira a caracterizar os ciclos de protestos que serão alvo da pesquisa empírica; 2) elencados os ciclos de protestos-alvo, buscar, por meio da própria pesquisa em jornais, os líderes ou indivíduos típicos que participaram dos protestos e com eles realizar entrevistas semiestruturadas ou grupos focais com o intuito essencial de perceber as características, objetivos, organização dos grupos sociais e movimentos chave nos protestos; 3) realizar, por fim, rodadas de discussões entre os pesquisadores em que os resultados da pesquisa possam ser analisados e interpretados.